11 de abr. de 2008

Ode ao passado

Por que temos tanto a tendência de endeusar aquilo que foi feito no passado e simplesmente desprezar ou colocar em um nível abaixo aquilo que surge de novo? Em matéria de rock isso é o que mais se vê: artistas (que eu particularmente acho muito bons) como Eric Clapton, Tony Iommi e John Petrucci são colocados num pedestal de infalibilidade pelos fãs; mesmo as piores músicas que já escreveram e seus maus momentos são louvados como verdadeiros momentos de genialidade.Já com nomes menos conhecidos ou que surgiram mais recentemente, a conversa é outra: ou o cara simplesmente "copia" tudo que os "mestres" já fizeram, ou está destinado a ser modinha e ser esquecido em breve (o que não deixa de ser verdade em grande parte dos casos).


Um exemplo de artista que se encaixa na categoria mencionada é John Mayer: seu começo de carreira tem uma base bastante pop (Room For Squares), porém mostrou no decorrer dos seus cds que tinha mais a oferecer do que simplesmente músicas como Your Body Is a Wonderland. A prova disso é o disco Continuum, onde se sente mais livre para mostrar suas influências de blues, soando pop sim, mas bem mais sofisticado do que 90% que se pode encontrar por aí (remetendo inclusive à face mais pop do já mencionado Eric Clapton, citando como exemplo as canções Change The World e Tears In Heaven). Mas por mais que tecnicamente seja um artista bom, simplesmente por seguir um caminho mais acessível, é desprezado pelos "verdadeiros amantes de blues e rock", que se recusam a se ouvir um artista que vende (como se ser popular significasse necessariamente estar associado ao demonio, ou pior, à elite porca capitalista que janta criançinhas em seus salões de mármore).


Minha crítica em relação a isso é que basicamente eu vejo que quem age assim peca em dois pontos principais: se torna incapaz de fazer uma análise crítica de seus ídolos, e por mais que não goste de determinado trabalho feito por estes, não consegue ser verdadeiro a ponto de admitir que os artistas que gosta têm sim defeitos, mas isso não é motivo para deixar de aproveitar o que eles produziram de bom. Já o segundo ponto é justamente naquele de ter uma visão estreita musicalmente, e preferir ficar no seu mundinho seguro a procurar coisas novas... eu tenho a opinião que o medo das pessoas não é odiar o que ouviram de novo, mas sim admitir que gostam. Imagine que vergonha, alguém que ouve gente como B.B. King ou Frank Sinatra reconhecendo talento em um cara como Jamie Cullum? Meu Deus, que escândalo, não? No final, cai sempre na mesma história: as pessoas se levam a sério demais e não são capazes de deixar um pouco a máscara que usam de lado... afinal, melhor a pose de cool e de intelectual do que admitir que tem um gosto variado, não?


P.S: Sim, esse post começou com um objetivo e acabou mudando pra outro. Se estiver confuso ou mudar subitamente de um assunto pro outro... bem, me processem.