25 de set. de 2007

Acústico MTV ou "Como reviver bandas do time b do rock nacional"

Surgido em 89 nos Estados Unidos, a proposta do MTV Unplugged era trazer convidados do mundo do rock para que tocassem versões acústicas de seu trabalho. Grandes nomes passaram pelo programa em sua primeira fase, gente como Stevie Ray Vaughan, Joe Satriani, Elton John, Paul McCartney e Eric Clapton.

É claro que a MTV brasileira ia seguir essa idéia, reunindo os "grandes artistas nacionais" em programas baseados nos mesmos moldes. E não bastando importar a formula, tiveram que adaptá-la à realidade nacional, que sejamos sinceros, não é nada vantajosa pro rock. O Acústico MTV, no Brasil, virou sinonimo de artistas decadentes dos anos 80, normalmente do time b das bandas de rock formadas na época, que buscam reerguer sua carreira.

Maior exemplo disso é o Capital Inicial. Quem se lembra de ouvir alguma coisa sobre a banda antes do infame acústico que lançaram? De uma hora pra outra, o Capital foi alçado de uma simples banda do time b daquelas surgidas em Brasília durante a década de 80 (alguns dizem que nem time b era, mas sim já do time c), para um fenomeno pop. De banda moldada pelo estilo punk, com músicas agressivas como "Pedra na mão" e "Autoridades", passou a mais uma bandinha pop descartável, com composição no melhor (ou pior, no caso) estilo Jota Quest de ser.

O acústico MTV Brasil perdeu totalmente seu sentido, virando só mais uma ferramenta pra vender cada vez mais discos e atrair audiência pra emissora. De que outra forma poderia se explicar aberrações comos os acústicos de figuras como Zeca Pagodinho (que teve DOIS acústicos lançados... ah claro, Zeca Pagodinho normal é um metal muito pesado) e Sandy & Júnior? A maior prova de que esse lixo vende, é o acústico do Lobão. Digo, o cara deve ter se enchido o saco de vender mal e decidiu chutar o pau da barraca. Quer jeito melhor de fazer um rio de dinheiro e se vender de vez do que fazer um acústico da MTV Brasil?

Claro, há as eventuais excessões que fogem do óbvio e conseguem ter alguma qualidade. Mas, na maioria dos casos, parece que se aproveita a mesma produção para todos os acústicos, dessa forma podendo gravar acústicos em dúzias, lançando no mercado em doses homeopáticas, sempre com um lançamento pronto para lucrar mais alguns trocados. Alguém precisa avisar pros caras da MTV Brasil que um acústico não se faz necessariamente com a contratação de uma orquestra e a utilização de violinos nos arranjos "novos" do que a banda escolhida vai tocar. Basta um pouco de bom senso e o mínimo de bom gosto possível.

O acústico do Nirvana é a grande prova de que não é preciso toda uma super-produção. Não tem nenhuma grande orquestra, só os caras tocando violão (seguindo o espírito da palavra unplugged) e o set da banda é basicamente de covers, tendo somente "Come as You Are" como um grande hit da banda. Mesmo assim, é um excelente acústico, com covers decentes e um clima realmente intimista. E consegue isso sem precisar alugar um teatro todo cheio de frescuras nem usar tapetes persas como decoração.

14 de set. de 2007

A (falta de) identidade de quem escuta determinado estilo

Fica fácil detectar quem gosta de determinado estilo de rock pelo jeito como se veste ou anda. Os headbangers, por exemplo, podem ser facilmente identificados pelos cabelos compridos, muitas vezes acompanhados de camisetas de banda e coturnos desgastados. Costumam identificar o indie pelo corte de cabelo moderninho, pelos botons no casaco ou mala/bolsa que carrega, e pelo jeito alternativo de se vestir.

Mas esse post não é sobre "a moda das tribos urbanas", mas sim sobre o fato de que gostar de determinado estilo acaba fazendo com que a maioria das pessoas seja taxativa e exclua do seu gosto outros estilos sem nem sequer conhecê-los. Pra maioria dos headbangers, tudo produzido em matéria de indie-rock é lixo, mesmo que jamais tenham ouvido algo do tipo. E é claro, o contrário também é bastante evidente.

Onde quero chegar? Bem, basicamente a impressão que tenho é que procurar conhecer um pouco de cada gênero, tentando reconhecer qualidade em cada um dele acaba sendo considerado anormal. Pra ser aceito por determinado grupo, é preciso gostar só de determinada coisa e nada além daquilo. A palavra eclético passou a ser vista como uma palavrão, passou a significar não ter identidade e não entender bem de nenhum estilo de música.

Basicamente, pra ser aceito, é preciso fechar a cabeça e viver num mundindo fechado, acreditando que tudo produzido de bom em matéria de música pertence a um só estilo. Não é a toa que tantas bandas iguais andam surgindo ultimamente, em todos os estilos. É dificil achar alguém que tenha mente aberta o bastante (e principalmente coragem) para ouvir e flertar com estilos sonoros diferentes, uma das poucas maneiras pelas quais vejo que a música pode evoluir.

3 de set. de 2007

A segmentação do Rock

Faça um exercício mental e tente se lembrar de alguma banda que tenha surgido desde metade da década de 90, que tenha qualidade indiscutível, reconhecida mundialmente, até pelos que não são muito ligados em rock, e que acima de tudo tenha conseguido se manter em evidência sem precisar prostituir seu trabalho. Díficil?

Algum nome como The Strokes, Artic Monkeys ou até Libertines pode ter surgido na mente. Mas esses nomes, apesar da sua qualidade, não causaram nenhuma grande comoção, mesmo dentro do mundo do rock. Além, é claro, de estarem restritos a públicos bem específicos. Provavelmente o nome que surgiu pra quem conhece o gênero é do Nirvana. Mas vale lembrar que a banda acabou em 94, e desde então não surgiu nenhum grande fenômeno do mesmo nível pra abalar as estruturas do que se conhece como rock.

A falta de um novo nome revolucionário faz com que as bandas que realmente possuem alguma relevância e façam algum trabalho de peso sejam aquelas surgidas nas décadas de 70 e 80. Apesar de tudo, a velhice vai chegando pros seus membros, e a criatividade uma hora acaba. Infelizmente, parece que não há uma renovação nesse sentido, de bandas novas mostrarem a que vieram e deixarem sua marca como grandes nomes da música.

Isso se deve a que? Acredito que é uma mistura, desde o fato da música estar sendo tratada cada vez mais como um produto do que como uma forma de expressão, até o fato do próprio rock estar cada vez mais segmentado, sendo díficil atingir o público em geral, com um trabalho que agrade à maioria. Metaleiros vão continuar ouvindo metal (se dividindo em sub-gêneros, como os amantes do doom e os que gostam de progressivo), assim como aquele que gosta de indie-rock vai continuar ouvindo só aquilo.

O ponto que quero chegar é o seguinte: Acabou a época em que era possível surgirem nomes como os Beatles, o Pink Floyd e o Led Zeppelin (pra citar só alguns), que por mais que não tivessem total aceitação, conseguem até hoje influenciar e ser amados por fãs dos mais diversos gêneros musicais? Pessoalmente acredito que sim, que a segmentação é cada vez mais forte (ainda mais com a internet), e que vai ser dificil (se não impossível) surgir algum nome novo que tenha tanta influência ou qualidade quanto os citados.